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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A besta está em nós

Hoje eu vi uma notícia que me deixou chocado. Falava sobre um rapaz que, neste sábado,  voltava do trabalho, seu primeiro emprego, com a namorada. Levava um presente para seu pai, a ser entregue este domingo, dia dos pais. Quando entrou no ônibus, esbarrou acidentalmente numa mulher com um bebê. Ela reclamou e um homem que nem a conhecia começou a gritar com o garoto. Acho que não importava se o garoto foi realmente mal educado, respondendo à mulher, ou se ela é que era ignorante e queria armar um barraco. Acontece. Mas esse homem não tinha nada a ver com o assunto. Ele ligou para alguém, e dois pontos depois, entrou um comparsa no ônibus que atirou no rapaz. E o matou.
Isso aconteceu este sábado sete de agosto de 2010, próximo a Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. É próximo de onde eu moro, pode ser um ônibus que eu pego com freqüência. Poderia ter acontecido comigo, poderia ter acontecido com um amigo meu. E ontem enquanto eu almoçava com meu pai, o pai desse rapaz chorava. E ainda chorava dando depoimento para a televisão.
Por que isso?
Quem são essas pessoas que andam pelas ruas e pensam que podem fazer o que quiserem? Que quem se magoar com seus atos monstruosos está lhe insultando e deve dar satisfação? É isso que se passa por suas mentes, que ELES são justos num mundo de incompetentes arrogantes? Mas eu digo, pessoas assim renunciam aos próprios direitos violando o dos outros dessa forma, pessoas assim que deveriam morrer todos os dias. O direito à vida é assegurado a todos pois não importa qual o erro é creditada a uma pessoa a capacidade de aprender a respeitar, de aprender a não repetir o erro. Mas essas pessoas são punidas e voltam a agredir os outros, por diversão. E a nós só resta lamentar e rogar esperançosamente que um dia eles entendam o sofrimento que causaram e sofram de remorso. Mas que sofram muito.

Link:A reportagem sobre o assunto aqui

Memento mori.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Horror do Mundo Real

Ao acordar de um pesadelo, um dos piores que você já teve, você apenas acha desagradável ter perdido o sono com algo “ruim” ou aproveita a sensação reconfortante de notar que não era real? Se fica chateado pense que seria muito pior se fosse real.
Todos os dias o mundo nos presenteia com notícias macabras gratuitas pela TV e, se você tiver disposição, pode comprar um jornalzinho de um real que vem encharcado em sangue. As melhores(ou piores, você quem escolhe) histórias de terror não tem qualquer elemento de sobrenatural. Assassinatos, estupros, torturas e outras atrocidades são cometidos por pessoas e que ninguém venha pôr a culpa em demônios, hábitos ou na religião da vítima ou do agressor. O pior (e dessa vez é o pior mesmo) monstro, a pior praga para a natureza, o algoz da humanidade é a própria humanidade.
Nas postagens com a etiqueta Horror do Mundo Real desejo expor casos publicados com intenção de alertar aos eventuais leitores sobre as formas que o horror toma forma no dia-a-dia. E se possível, apontar à estupidez de alguns criminosos em cometer os crimes. Como nesse caso recente, que muito incomodou por causa de toda atenção dada. O jogador Bruno do flamengo!!! Correndo o risco de fugir do clima vou dizer o que eu penso. O maluco tinha futuro; iam chamar ele pra jogar na Europa, ele já era rico. Num sei se ele era casado e não quero saber. É irrelevante. Uma garota engravida dele, aparentemente apenas para conseguir dinheiro...e ele, uma pessoa conhecida, com tudo para estar nadando em dinheiro, não era um completo idiota, ou seja, tinha conhecimento das alternativas legais para resolver a situação...manda o amiguinho matar a garota!!!      [maldição]
E além disso, aí que entra o detalhe macabro, esquartejam o corpo, DA MULHER GRÁVIDA, e dão pros cachorros comerem!!! Pra que isso???? E por quase um mês, nem sei, quem quer ouvir uma notícia importante é obrigado a escutar essa exaltação à estupidez que é toda a atenção que dão a esse homem. É uma formula especial, jogue fora uma bela carreira, sua liberdade, duas vidas e em troca ganhe um mês de notícias sobre você...tudo pra não levar o golpe da barriga...parabéns.
dê mais alguns meses, quando a Globo parar de falar no assunto, vão surgir um ou até dois imitadores...significa que alguém, com as mesmas oportunidades de vida ou não, vai matar uma mulher grávida só pra aparecer na TV. Não importa o que os repórteres digam, o que ele diga...é só pra chamar a atenção.
E esses são os humanos.


memento mori.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Corvo

Quando você começa a se interessar por leitura, e já gosta dos maravilhosos contos de terror, nomes de grandes autores vêm a seus ouvidos com freqüência. Autores de grandes clássicos que nunca devem ser esquecidos.
Edgar Allen Poe é um deles, e seu poema O Corvo é sua obra mais conhecida. Aqui lhes ofereço este escrito genial, na tradução de Fernando Pessoa, que infelizmente não faz justiça ao drama de Allen Poe. Posteriormente publicarei o original em inglês. Devo futuramente me aventurar a fazer minha própria tradução, correndo sério risco de perder a preciosa rima que marcava o estilo do autor.
      O CORVO * (de Edgar Allan Poe)
      Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
      Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
      E já quase adormecia, ouvi o que parecia
      O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
      "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
      É só isto, e nada mais."
      Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
      E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
      Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
      P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
      Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
      Mas sem nome aqui jamais!
      Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo, "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
      É só isto, e nada mais".
      E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
      Noite, noite e nada mais.
      A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais - Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
      Isso só e nada mais.
      Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais." Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
      "É o vento, e nada mais."
      Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
      Foi, pousou, e nada mais.
      E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
      Com o nome "Nunca mais".
      Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      A alma súbito movida por frase tão bem cabida, "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais, Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
      Era este "Nunca mais".
      Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
      Com aquele "Nunca mais".
      Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
      Reclinar-se-á nunca mais!
      Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo, A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte! Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
      Libertar-se-á... nunca mais!
    Fernando Pessoa

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fallout, uma previsão sinistra; e possível...



War, war never changes...
Grandes civilizações do passado, que duraram milênios mais que a nossa, ruiram por causa de guerras e crises resultantes delas. O que se segue após essa queda é um longo período de trevas, onde os sobreviventes se reunem nas ruinas tentando se manter, sem leis. Os mais fortes, com mais posses, fazem as novas leis. Quem estiver sozinho morre. Foi assim com a queda de roma, dando inicio à idade média, e será assim após a guerra nuclear.

A série de jogos para computador Fallout conta histórias pós-guerra nuclear passadas em grandes cidades americanas. Tratam-se de jogos de RPG eletrônico. Significa que há uma grande história que pode mudar de rumo dependendo das ações e diálogos do jogador. Fallout 3, que foi o que eu joguei, pode ter um final com um sacrifício dramático e heróico, pode ter um fim apenas heróico, ou um extremamente catastrófico causados pelo egoísmo e a ganância do protagonista. O protagonista sempre é um morador de um dos Vaults, abrigos subterrâneos construídos na iminência da guerra para abrigar quem pudesse pagar. Em cada jogo há um bom motivo para o personagem sair de seu abrigo para um mundo selvagem( daí o nome do jogo; “cair fora”). No primeiro jogo um equipamento importante do Vault 13 para de funcionar e o herói deve procurar outro antes que seus companheiros morram. No fallout 3, o de melhores gráficos até agora, o pai do personagem foge do Vault 101, na Washington de 2277, conhecida como Capital Wasteland (Capital das Terras Perdidas). Então o herói é praticamente expulso do lar e decide ir em busca do pai. Dependendo da vontade do jogador, pode-se partir então numa jornada para ajudar a recomeçar a civilização.
A grande civilização ocidental.
Ao sair do abrigo, a primeira visão de uma cidade devastada é ofuscada pela luz natural do sol. Olhando ao redor a sensação de desolação é inevitável, estando em meio a um árido deserto, com restos de casas, construções monumentais e a ameaça de criaturas mutantes e bárbaros desumanos. O primeiro assentamento amigável onde se pode ter abrigo é construído ao redor de uma bomba desativada. E a maioria dos moradores de tais vilas, que costumam ser bem cercadas e armadas, vêem como impossível a sobrevivência do lado de fora. Há sempre saqueadores, mercenários e escravistas. Claro que a escravidão é uma das formas de comércio/trabalho que voltariam a ser comuns com o fim da sociedade. Mas...se houve tantos sobreviventes, o que houve com o governo? Nos Estados Unidos é tão importante a segurança do presidente, outros políticos e os militares que os protegem. Seria certo que ainda houvesse alguma forma de governo. De certa forma.

A Irmandade e o Enclave.

Power Armor da Irmandade do Aço

Tudo que restou do governo são duas facções rivais chamadas Enclave e Irmandade do Aço. Amba se ocupam primordialmente de recuperar tecnologia e conhecimento pré-guerra, com pouca ou nenhuma preocupação com a população em si. Aparentemente os cientistas e militares que formam as organizações podem são autoindicados melhores para repovoar o país. Mas as duas organizações também são originárias da costa oeste do país, onde se passam os dois primeiros jogos. Algumas diferenças existem entre elas lá e em Washington, na costa leste onde se passa Fallout 3. O enclave é extremamente hostil, e é comandado por um auto denominado presidente Eden o qual reserva uma surpresa ao fim do jogo. O destacamento da Irmandade do Aço é mais preocupada com a população desprotegida da capital e trabalha como polícia; apenas onde é mais interessante, óbvio, podendo até ser aliada do protagonista.


Uma pitada de macabro.

Muitas coisas sutis, sempre com um pouco de sangue.

Interessante é que praticamente tudo no enredo do jogo esconde algo de sinistro, ou corrupto. Para começar, as empresas Vault-tec que supostamente construíram os vaults para abrigar a população, na verdade os fez com intuito de realizar experiências. É possível ver isso no jogo quando você encontra outros vaults. Um foi tomado pelos supermutantes, resultado de uma dessas experiências. Outro, muito bem escondido em um cemitério abrigou apenas um morador, que teve de conviver com fantoches de mão. Essa história é contada em tiras no site da Bethesda. Há ainda os robôs que acompanham, protegem e servem os NPC’s (personagens que não são do jogador). Alguns apresentam tendências psicóticas. Espalhadas pelo jogo há diversas menções até a humor negro, mas também ao valor de uma boa ação.

A história se repete.

Fallout é, ao meu ver, uma visão pessimista mas extremamente realista de um futuro possível. Claro que dramatizada, cheia de elementos fantásticos que não diminuem o horror, mas tornam mais atrativo o jogo como um passatempo.O jogo em si é uma obra de arte, palos gráficos, música ambiente, enredo. Maravilhoso. Contudo, se um cataclisma como o da história acontecesse não seria de forma alguma belo. E o perigo deve ser considerado. A maior potência mundial é conhecida como paranóica, gananciosa, intrometida e está constantemente em guerra com outros países por isso. Para quem estuda um pouco de história terá conhecimento dos fatos. Em tempos de segurança, quando todos pensam que as barbaridades do passado não são mais possíveis, acontecem as coisas mais absurdas. Ao fim do século XIX, com o avanço da tecnologia em armas cada vez mais letais e destruidoras, cientistas falaram na ”guerra para acabar com todas as guerras” que seria tão terrivel, que todas as nações se conscientisariam em arranjar acordos pacíficos a partir dela, com medo de que se repetisse. Essa foi a Primeira Guerra Mundial, e ela só levou à Segunda. Na Segunda Grande Guerra, inventaram o que seria “a arma para acabar com todas as guerras”. Doce piada. Ela não acabou com as guerras, muito pelo contrário. A mais destrutiva criação do homem, como prevê esta história, pode acabar com muitas coisas. Mas a guerra, a guerra nunca muda...


Memento Mori

Curiosidades
Como em todo bom jogo de RPG há uma unidade monetária para você comprar cerveja na taberna. Em Fallout, com a destruição da casa da moeda, o dinheiro são tampinhas de garrafa. E não é de qualquer garrafa não, só é dinheiro se vier do refrigerante Nuka-Cola.

A voz do presidente do Enclave é emprestada de Malcolm McDowell, protagonista do filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick.

Qualquer semelhança com o filme recente O Livro de Eli, é mera coincidência, mas bem que podia não ser. O filme tem um enredo completamente diferente, mas também é ótimo no mesmo tema pós-apocalíptico. Para quem gostar do estilo vale ver também a trilogia Mad Max e o anime Desert Punk.




Trailer legendado do jogo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Festim Diabólico

Uma festa com o banquete servido sobre o caixão do convidado mais esperado.

Rope, (corda em inglês), é o título original dessa produção de 1948, do mestre Alfred Hitchcock. O roteiro foi baseado numa peça teatral e em um caso real, de Loeb e Leopold, estudantes da Universidade de Chicago, que cometeram um crime de forma semelhante à narrada no filme.


Philip Morgan (passivo)

Brandon Shaw
Essa é a história de Brandon Shaw e Philip Morgan (claramente um casal homossexual, embora a censura da época não deixasse nem que se mencionasse a palavra), que valorizavam os ensinamentos de um antigo professor, Rupert Cadell , sobre a teoria do super-humano de Nietzsche segundo a qual, um homem pode ser superior a outros, tendo assim direito inclusive sobre suas vidas. Não é simplesmente pensar que há pessoas no mundo que apenas ocupam espaço, mas o assunto no filme é abordado de maneira bem superficial, para apenas se entender. Os dois cometeram um homicídio apenas pelo prazer e desafio de cometerem o crime perfeito, considerando tal coisa uma arte. E a vítima foi justamente um colega menos inteligente dos tempos de escola, David Kentley.
Os bons americanos morrem jovens no campo de batalha. Os Davids desse mundo apenas ocupam espaço.
O grande ponto, o especial desse filme, não é o assassinato em si, tão normal em filmes e na vida real que não mereceria sequer comentários, nem a arma do crime que dá nome ao filme. É a forma grotesca como eles decidem “celebrar” seu ato. Colocaram o corpo dentro de um baú que ficava na sala, forraram-no, amontoaram comida entre dois castiçais... E deram uma festa, convidando os familiares e amigos de David. O horror fica por conta da fraqueza de Philip, temendo que a brincadeira da festa seja descoberta, sendo mais torturado pelos flertes de Brandon com o perigo, sempre dando pistas aos convidados. Mas o grande erro foi mesmo convidar o antigo professor com a esperança de que ele apreciasse o que foi feito.
Onde está David? Por que está tão atrasado para a festa?Será que algo aconteceu com ele? O suspense no fim é você saber a resposta a essas perguntas e todo o horror que isso implica. O que você sentiria ao descobrir que a pessoa que você espera está dentro do baú? O que você sentiria se você não quisesse que o baú fosse aberto?

memento mori.


Comentários técnicos.

Alfred Hitchcock foi o pai do suspense e do horror no cinema, um mestre. Infelizmente a maioria das pessoas hoje nem respeitam a sétima arte como tal, nem admiram filmes clássicos como este. Festim Diabólico não foi um grande sucesso por pouco. Discordâncias entre o roteirista, Arthur Laurents, e Hitchcock e o tema inapropriado para a época são dois motivos.

Homossexualismo era algo que, nas Américas, era tratado como se não existisse. Na Europa era crime. Foi difícil encontrar atores que quisessem se arriscar com tais personagens. Os que aceitaram, tiveram dificuldade de interpretar cenas mais íntimas. O professor Rupert Cadell, interpretado por James Stewart, supostamente teve um caso com um dos protagonistas, mas isso não é perceptível no filme. A relação entre Brandon e Philip é mostrada como eventuais trocas de elogios e olhares denunciadores. E o grande suspense do filme ficou incerto com uma simples decisão do diretor. Arthur Laurents escreveu o roteiro sem nenhuma aparição da vítima, para que a platéia se perguntasse assim como os personagens, o que houve com David? Eles realmente o mataram? Ele está no baú?
Mas Hitchcock fez a cena inicial mostrando o homicídio, o que nos tirava a duvida, dando certeza até de que eles seriam pegos. O suspense então se resume a, quem vai abrir o baú e quando. Mas, de certa forma, essa certeza não estraga o filme. É um elemento de macabro que tornou o diretor célebre.

Além disso havia sua visão de filmar uma peça de teatro. Alfred Hitchcock tentou em vários de seus filmes fazer toda a produção com um único take, fazer o filme sem cortes de cena nem montagem. Mais que economizar com um editor, era a visão artística dele, mas impossível, pois os rolos de gravação só tinham dez minutos. Então, para esconder os cortes, ele filmava as costas de alguém ou uma cena sem ninguém. Mesmo assim fica a vista (o que se torna um jogo para quem vê esses filmes, contar os cortes de cena).

E uma curiosidade, o mestre do suspense gostava de fazer uma aparição em todos os seus filmes, de maneira silenciosa e quase escondida. Mas Rope foi um desafio, pois o filme inteiro se passava dentro de um único apartamento. A solução foi fazer os créditos iniciais mostrando a rua em frente ao prédio dos assassinos, na qual Hitchcock aparece passeando.
Festim Diabólico foi um dos lendários “cinco filmes perdidos de Hitchcock”, pois ele havia recomprado seus direitos para deixá-los de legado para a filha, e só voltaram a estar acessíveis ao público em 1984.


domingo, 23 de maio de 2010

Pondo os pés no chão



Para o fim de evitar constrangimentos e comentários desagradáveis no futuro, venho por meio desta postagem explicar mais um pouco da visão do horror que intento descrever neste blog.
Antes de qualquer suposição, o tema aqui exposto não compõe nenhuma apologia ao terrorismo nem valoriza a violência. Não trata de nenhuma religião, seita ou organização, fora com intuito de dar verossimilhança a algum conto de ficção que espero publicar, de minha autoria ou de terceiros.
O Horror aqui descrito é uma emoção como qualquer outra e implica também o desespero, um pânico que lhe aflige sempre antes das coisas melhorarem na vida real. Vale o ditado, tudo sempre piora muito antes de melhorar. É como acordar de um pesadelo e sentir um alivio extasiante por nada no sonho ser real. Esse é um argumento a quem nos tenta impedir de buscar esse sentimento, quem não se agrada com um filme de terror e nos gasta a paciência dizendo que isso, de alguma forma, nos faz mal. A tristeza, o frio, a incerteza, a perda e a morte fazem parte da vida (especialmente a morte), e fingir que essas coisas não existem não as afastará para sempre e pode te destruir quando se deparar com elas. Procuro também adicionar a aura da estética gótica como subcultura urbana; imagens, desenhos, a arte e a poesia que me inspiram os sonhos, e os pesadelos, mais insólitos.
E este blog, sobretudo, é um ponto de encontro para admiradores de histórias de terror, suspense, comédias de humor negro e dramas. Ninguém precisa concordar com o que escrevi aqui, desde que não encham os comentários de críticas negativas.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Cenário Sombrio - Uma visão do horror

É noite na metrópole, e um mendigo dorme na rua úmida, sob uma ponte. A luz fraca de um poste a alguma distância ilumina um grupo de jovens que se aproximam. O mendigo pede uma esmola, mas os rapazes começam a espancá-lo. O lider da gangue descreve o momento como "HorrorShow", o show de horror. Esta é um cena do filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, filmado em 1971. O Show de Horror é a descrição do personagem à sua maior diversão, causar horror. Aqui eu descrevo como um evento chocante que te pucha violentamente de toda uma realidade agradável de tardes ensolaradas com a família, para uma noite fria no meio da rua com pessoas brigando e sangue espirrando em você, onde o pânico o paraliza por completo.O horror aqui é todo cenário sombrio que instiga o medo por algo simples apenas por você achar impossível, ou que nunca aconteceria com você. Ou que você não seria capaz de fazer.

Apesar de todo este desespero, isso é bom. É bom porque o medo, e a dor, são o que nos faz saber que estamos vivos também. Somado a isso, quando o horror passa, voltamos a valorizar as pequenas coisas da vida pacata que você já estava esquecendo o quanto são importantes. Mas cale lembrar também que a ingenuidade deve ser moderada. Como você pode ver todos os dias, a não ser que seja um alienado completo, shows de horror acontecem no mundo real e tomam seus ligares nas manchetes, muitas vezes fazendo-nos chorar, sem apelar para o sobrenatural, mas para o insompreensível dos caprichos da mente humana. Tão humana...

Então, saiba que haverá ao menos um momento em sua vida que você notará estar ao encontro dessa realidade sombria e que você poderá causar um desses momwntos de horror. Nessa hora tenha em mente a diferença: na realidade do seu dia-a-dia você terá toda uma vida de novas experiências enquanto um show de horror costuma terminar em morte. E essa raramente é a realidade do dia-a-dia. O mundo real não precisa ser assim.