Uma festa com o banquete servido sobre o caixão do convidado mais esperado.
Rope, (corda em inglês), é o título original dessa produção de 1948, do mestre Alfred Hitchcock. O roteiro foi baseado numa peça teatral e em um caso real, de Loeb e Leopold, estudantes da Universidade de Chicago, que cometeram um crime de forma semelhante à narrada no filme. |  Philip Morgan (passivo)
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 Brandon Shaw
| Essa é a história de Brandon Shaw e Philip Morgan (claramente um casal homossexual, embora a censura da época não deixasse nem que se mencionasse a palavra), que valorizavam os ensinamentos de um antigo professor, Rupert Cadell , sobre a teoria do super-humano de Nietzsche segundo a qual, um homem pode ser superior a outros, tendo assim direito inclusive sobre suas vidas. Não é simplesmente pensar que há pessoas no mundo que apenas ocupam espaço, mas o assunto no filme é abordado de maneira bem superficial, para apenas se entender. Os dois cometeram um homicídio apenas pelo prazer e desafio de cometerem o crime perfeito, considerando tal coisa uma arte. E a vítima foi justamente um colega menos inteligente dos tempos de escola, David Kentley.
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Os bons americanos morrem jovens no campo de batalha. Os Davids desse mundo apenas ocupam espaço. O grande ponto, o especial desse filme, não é o assassinato em si, tão normal em filmes e na vida real que não mereceria sequer comentários, nem a arma do crime que dá nome ao filme. É a forma grotesca como eles decidem “celebrar” seu ato. Colocaram o corpo dentro de um baú que ficava na sala, forraram-no, amontoaram comida entre dois castiçais... E deram uma festa, convidando os familiares e amigos de David. O horror fica por conta da fraqueza de Philip, temendo que a brincadeira da festa seja descoberta, sendo mais torturado pelos flertes de Brandon com o perigo, sempre dando pistas aos convidados. Mas o grande erro foi mesmo convidar o antigo professor com a esperança de que ele apreciasse o que foi feito. Onde está David? Por que está tão atrasado para a festa?Será que algo aconteceu com ele? O suspense no fim é você saber a resposta a essas perguntas e todo o horror que isso implica. O que você sentiria ao descobrir que a pessoa que você espera está dentro do baú? O que você sentiria se você não quisesse que o baú fosse aberto? memento mori. |
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Comentários técnicos. Alfred Hitchcock foi o pai do suspense e do horror no cinema, um mestre. Infelizmente a maioria das pessoas hoje nem respeitam a sétima arte como tal, nem admiram filmes clássicos como este. Festim Diabólico não foi um grande sucesso por pouco. Discordâncias entre o roteirista, Arthur Laurents, e Hitchcock e o tema inapropriado para a época são dois motivos. Homossexualismo era algo que, nas Américas, era tratado como se não existisse. Na Europa era crime. Foi difícil encontrar atores que quisessem se arriscar com tais personagens. Os que aceitaram, tiveram dificuldade de interpretar cenas mais íntimas. O professor Rupert Cadell, interpretado por James Stewart, supostamente teve um caso com um dos protagonistas, mas isso não é perceptível no filme. A relação entre Brandon e Philip é mostrada como eventuais trocas de elogios e olhares denunciadores. E o grande suspense do filme ficou incerto com uma simples decisão do diretor. Arthur Laurents escreveu o roteiro sem nenhuma aparição da vítima, para que a platéia se perguntasse assim como os personagens, o que houve com David? Eles realmente o mataram? Ele está no baú? Mas Hitchcock fez a cena inicial mostrando o homicídio, o que nos tirava a duvida, dando certeza até de que eles seriam pegos. O suspense então se resume a, quem vai abrir o baú e quando. Mas, de certa forma, essa certeza não estraga o filme. É um elemento de macabro que tornou o diretor célebre. Além disso havia sua visão de filmar uma peça de teatro. Alfred Hitchcock tentou em vários de seus filmes fazer toda a produção com um único take, fazer o filme sem cortes de cena nem montagem. Mais que economizar com um editor, era a visão artística dele, mas impossível, pois os rolos de gravação só tinham dez minutos. Então, para esconder os cortes, ele filmava as costas de alguém ou uma cena sem ninguém. Mesmo assim fica a vista (o que se torna um jogo para quem vê esses filmes, contar os cortes de cena).
E uma curiosidade, o mestre do suspense gostava de fazer uma aparição em todos os seus filmes, de maneira silenciosa e quase escondida. Mas Rope foi um desafio, pois o filme inteiro se passava dentro de um único apartamento. A solução foi fazer os créditos iniciais mostrando a rua em frente ao prédio dos assassinos, na qual Hitchcock aparece passeando. Festim Diabólico foi um dos lendários “cinco filmes perdidos de Hitchcock”, pois ele havia recomprado seus direitos para deixá-los de legado para a filha, e só voltaram a estar acessíveis ao público em 1984. 
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