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quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Horror do Mundo Real

Ao acordar de um pesadelo, um dos piores que você já teve, você apenas acha desagradável ter perdido o sono com algo “ruim” ou aproveita a sensação reconfortante de notar que não era real? Se fica chateado pense que seria muito pior se fosse real.
Todos os dias o mundo nos presenteia com notícias macabras gratuitas pela TV e, se você tiver disposição, pode comprar um jornalzinho de um real que vem encharcado em sangue. As melhores(ou piores, você quem escolhe) histórias de terror não tem qualquer elemento de sobrenatural. Assassinatos, estupros, torturas e outras atrocidades são cometidos por pessoas e que ninguém venha pôr a culpa em demônios, hábitos ou na religião da vítima ou do agressor. O pior (e dessa vez é o pior mesmo) monstro, a pior praga para a natureza, o algoz da humanidade é a própria humanidade.
Nas postagens com a etiqueta Horror do Mundo Real desejo expor casos publicados com intenção de alertar aos eventuais leitores sobre as formas que o horror toma forma no dia-a-dia. E se possível, apontar à estupidez de alguns criminosos em cometer os crimes. Como nesse caso recente, que muito incomodou por causa de toda atenção dada. O jogador Bruno do flamengo!!! Correndo o risco de fugir do clima vou dizer o que eu penso. O maluco tinha futuro; iam chamar ele pra jogar na Europa, ele já era rico. Num sei se ele era casado e não quero saber. É irrelevante. Uma garota engravida dele, aparentemente apenas para conseguir dinheiro...e ele, uma pessoa conhecida, com tudo para estar nadando em dinheiro, não era um completo idiota, ou seja, tinha conhecimento das alternativas legais para resolver a situação...manda o amiguinho matar a garota!!!      [maldição]
E além disso, aí que entra o detalhe macabro, esquartejam o corpo, DA MULHER GRÁVIDA, e dão pros cachorros comerem!!! Pra que isso???? E por quase um mês, nem sei, quem quer ouvir uma notícia importante é obrigado a escutar essa exaltação à estupidez que é toda a atenção que dão a esse homem. É uma formula especial, jogue fora uma bela carreira, sua liberdade, duas vidas e em troca ganhe um mês de notícias sobre você...tudo pra não levar o golpe da barriga...parabéns.
dê mais alguns meses, quando a Globo parar de falar no assunto, vão surgir um ou até dois imitadores...significa que alguém, com as mesmas oportunidades de vida ou não, vai matar uma mulher grávida só pra aparecer na TV. Não importa o que os repórteres digam, o que ele diga...é só pra chamar a atenção.
E esses são os humanos.


memento mori.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Corvo

Quando você começa a se interessar por leitura, e já gosta dos maravilhosos contos de terror, nomes de grandes autores vêm a seus ouvidos com freqüência. Autores de grandes clássicos que nunca devem ser esquecidos.
Edgar Allen Poe é um deles, e seu poema O Corvo é sua obra mais conhecida. Aqui lhes ofereço este escrito genial, na tradução de Fernando Pessoa, que infelizmente não faz justiça ao drama de Allen Poe. Posteriormente publicarei o original em inglês. Devo futuramente me aventurar a fazer minha própria tradução, correndo sério risco de perder a preciosa rima que marcava o estilo do autor.
      O CORVO * (de Edgar Allan Poe)
      Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
      Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
      E já quase adormecia, ouvi o que parecia
      O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
      "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
      É só isto, e nada mais."
      Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
      E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
      Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
      P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
      Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
      Mas sem nome aqui jamais!
      Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo, "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
      É só isto, e nada mais".
      E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
      Noite, noite e nada mais.
      A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais - Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
      Isso só e nada mais.
      Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais." Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
      "É o vento, e nada mais."
      Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
      Foi, pousou, e nada mais.
      E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
      Com o nome "Nunca mais".
      Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      A alma súbito movida por frase tão bem cabida, "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais, Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
      Era este "Nunca mais".
      Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
      Com aquele "Nunca mais".
      Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
      Reclinar-se-á nunca mais!
      Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo, A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte! Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
      Disse o corvo, "Nunca mais".
      E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
      Libertar-se-á... nunca mais!
    Fernando Pessoa